Crítica: ‘Um Assunto de Mulheres’(1988), de Claude Chabrol


Podemos estar
diante do maior filme do cineasta francês Claude Chabrol. Uma obra-prima do
cinema em todos os seus âmbitos. Um filme impactante, forte, bonito, poético e
exacerbadamente emocionante. Uma viagem arrebatadora pela psique feminina
presente na primeira metade do século XX. Contamos aqui com um filme que beira
a perfeição. Direção, fotografia, roteiro e, principalmente, uma protagonista
que nos brinda com uma das maiores atuações da história do cinema, todos
perfeitos. ‘Um Assunto de Mulheres’ é tudo, menos um filme comum.
O filme vai
trazer a vida de Marie, uma mulher atraente, com dois filhos pequenos, um
marido ausente e nenhum dinheiro no bolso. Morando em um pequeno apartamento,
Marie tenta de todas as formas sobreviver. Sim, sobreviver. A luta diária é
para conseguir determinada quantia em dinheiro para poder propiciar uma
alimentação, mínima para passar o dia, para ela e seus filhos. Sua vida é
permeada de sonhos, de uma inocência perversa e uma limitação intelectual que a
atrapalha em seu cotidiano. O filme se passa durante a segunda guerra mundial,
na França ocupada pelos nazistas.
A vida de
Marie começará a tomar um rumo diferente a partir do momento em que decide
ajudar uma colega do prédio em que vive a fazer um aborto. Marie ganha uma
vitrola como recompensa e um pedaço de sabão. O ato desperta algo jamais visto
em Marie. O fato de ganhar uma determinada recompensa pelo ato é o fator menos
importante, o que comove Marie é o poder que lhe fora dado naquele momento. A
partir deste momento, do afloramento dos sentimentos jamais atingidos
outrora, a vida de Marie ganha contornos deturpados.

Em meio à
exasperação de sentimentos em Marie, temos a figura de seu marido Paul, até
então completamente ausente, que retorna da guerra. Paul é um homem desprendido
da vida, acha já ter feito o bastante nela. Sofrido o bastante. Ele não tem
nenhuma culpa em deixar a encargo da esposa o sustento da casa. Por vezes até
consegue um emprego ou outro, mas a demissão parece algo inerente ao homem. Ao
voltar da guerra, Paul percebe a figura de sua mulher mudada, o homem já não
reconhecera a esposa de que estava diante. A mulher agora emanava uma confiança
demasiada para aquela figura passiva que Paul conheceu antes da guerra. Paul
jamais iria ter o controle sobre sua casa novamente, Marie era quem reinava em
absoluto agora.
É importante
traçar o perfil do marido em questão, ele irá nortear o destino cruel de sua
esposa. Paul fora um homem que, querendo ou não, certo ou errado, voltou
marcado da guerra que estivera. Seja quem ele fosse antes da guerra, agora já
não existia mais. Ele agora demonstra extremo carinho pelas figuras dos filhos,
fazendo o possível para estar sempre próximo deles, e uma atração demasiada
pela esposa. Apesar de suas investidas, Marie parece sentir repulsa do marido.
Sexo com sua esposa já não era mais uma realidade para Paul. Em determinado
momento, Paul aborda de surpresa a esposa em uma rua vazia no meio da noite,
tentando coagi-la a fazer sexo com ele. A mulher se desvencilha de seus braços,
entoando a palavra: “Jamais! Jamais!”.

Em
determinado momento em um bar, Marie conhece uma prostituta que a indaga sobre
sua vida cautelosa e sem emoções. Marie então diz que, apesar das aparências,
não é uma mulher comum, afirmando burlar as regras fazendo abortos esporádicos.
Logo as duas desenvolvem um laço de amizade, onde uma iria elevar a outra. Os
abortos, que Marie se gabara para a prostituta até então, na realidade, fora
apenas um caso único. Entretanto, a mentira contada virá uma realidade quando
começam a chegar mulheres desesperadas a sua porta pedindo a ajuda de Marie em
troca de uma quantia razoável de dinheiro. Marie não hesita e começa a dar vida
a uma persona extra em sua rotina, essa muito mais interessante. Marie começa a
ganhar quantias relevantes de dinheiro, mudando do casebre que estava alocada
para um lugar muito melhor e mais cômodo. Ela decide, também, começar a alugar
apartamentos para prostitutas e, inevitavelmente, dá início a uma rotina de
traição com um jovem elegante, cliente de sua amiga prostituta.
Veremos a
seguir a construção de uma mulher poderosa, demonstrando uma frieza incomum na
cerne de sua pessoa. Sua preocupação com as pessoas ao seu redor é praticamente
nula, com exceção do carinho com seus filhos. Em determinado momento, uma de
suas clientes acaba morrendo em detrimento do aborto. Marie é abordada por um
dos familiares, mas não demonstra maiores preocupações fora aquelas com a sua
própria liberdade, aceitando até o dinheiro do familiar.

A direção do
Chabrol é impecável. Aqui o francês escolhe por fazer algo mais sutil nas
escolhas de cenários, construindo bem as cenas em seus locais limitados. Assim
como todas as suas parcerias com Isabelle Huppert, ele escolhe por dar a câmera
a ela. São inúmeros os enquadramentos fixos no rosto da atriz. Chabrol sabe
como encantar o público. Já seu roteiro, baseado no livro de Francis Szpiner,
escrito com Colo Tavernier,
segue a mesma linha de qualidade. Não teremos aqui uma extensão de diálogos,
porém eles são precisos. A fotografia é outra coisa que desperta atenção no
filme. Os enquadramentos, não se aproveitando do cenário, mas, sim, de seus
atores, é deslumbrante. Podemos recortar pelo menos uns três momentos que
serviriam de aula para qualquer filme, um se resume ao pôster do filme. É
impossível não se arrepiar no momento da cena.

O longa ainda
conta com uma composição de elenco regular, destacando o ator François Cluzet, interpretando o marido de Marie. Mas o grande elemento do filme é a
atuação de Isabelle Huppert. É muito fácil categorizar a
interpretação de Huppert em três fases da personagem: Antes dos crimes; Seu
Auge; e sua derrocada. A atriz consegue internalizar os diferentes nuances na
vida de sua personagem, dando em cada fase uma atuação cheia de complexidade.
Aproveitando sua química com o diretor, ela sabe os momentos certos de
intensificar a atuação. Os últimos 20 minutos de filme sua atuação alcança uma
qualidade inacreditável. A francesa é incomparável.
‘Um Assunto
de Mulheres’ é um filme ímpar até mesmo para o cenário francês de se fazer cinema.
A abordagem do filme, semelhante à usada por Mike Leigh,
em ‘O Segredo de Vera Drake’(2004), consegue colocar em pauta o “zeitgeist”
presente na época, em que mulheres oprimidas pelo machismo impregnado na
sociedade encontravam uma forma de se destacar diante de atos que infringiam as
leis da época. Uma obra-prima no sentido mais literal da palavra. São 108
minutos que não voltam mais. Ou até voltam, mas jamais vão ser experimentados
da forma que foi visto pela primeira vez.
Nota CI: 8,3 Nota IMDB: 7,6
Filmografia:
ASSUNTO de
Mulheres, Um. Direção: Claude Chabrol. 1988. 108 min. Título Original: Une
affaire de femmes.
SEGREDO de
Vera Drake, O. Direção: Mike Leigh. 2004. 125 min. Título Original: Vera Drake.

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